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“Trabalhar na China tornou-me uma mulher diferente



A actriz e encenadora Maria Atália destaca que a experiência de trabalhar na China foi positiva, mas carregada de muitas dificuldades que a tornaram outra mulher.  

Maria Atália trabalhou na China durante um ano e meio. Naquele país asiático, a actriz e encenadora colaborou com uma companhia que se dedica à dublagem de telenovelas, séries televisivas e desenhos animados.
Numa realidade tão diferente da moçambicana quanto à chinesa, a artista teve de enfrentar momentos muito difíceis, no entanto, reconhece que a experiência na China foi positiva. “Aprendi e ensinei”. Nesse processo de ensino e aprendizagem, Maria Atália apreendeu outra dinâmica de criação, produção e a sua relação com o tempo já não é a mesma. Ou seja, a actriz que regressou a Maputo, há quatro meses, para passar férias com a família, é distinta daquela mulher que há dois anos partiu para China. Sem vida social, sem diversão e com os dias preenchidos de muito trabalho, confessa Maria Atália, tornou-se outra mulher, mais chata. “Já ouvi de algumas pessoas próximas que a China me mudou. Tenho menos paciência para perder tempo. Por exemplo, irrito-me bastante quando as pessoas atrasam-se aos encontros ou quando não usam o tempo devidamente. Provavelmente já tivesse esta coisa, na China ficou carregada”. 
Na China, Maria Atália dublava, actuava na área técnica e traduzia. Tudo isso acontecia numa base de trabalho solitária, em que a artista, desde o momento que chegava aos escritórios até ao intervalo de uma hora para o almoço ou até regressar a casa no final do dia, não se contactava com os colegas, pela natureza das suas actividades. Trabalhava de segunda-feira a sábado, e o domingo apenas era dedicado às actividades domésticas, no contexto em que não há “diaristas”.
Segundo acredita Maria Atália, a sua experiência no teatro foi importante na China porque, “primeiro, no meu isolamento profissional, o teatro ajudou-me a não morrer. Sempre tive de trazer ao de cima a actriz que tenho em mim. Sem isso, eu teria voltado para casa ao fim de seis meses. Tive de olhar para aquela realidade como uma representação. Além disso, o meu lado actriz também ajudou-me nas dublagens, porque, nesta actividade, não basta só dizer, é preciso sentir o que se diz, considerando as circunstâncias”.
Para Maria Atália, foi igualmente difícil o trabalho na China porque levou tempo para entrar no sistema. “Eu sou uma pessoa muito perfecionista. No meu emprego, nós éramos avaliados pela quantidade do que pela qualidade. Eu era das que menos quantidade oferecia porque apagava muito. Na China resisti à ideia de apenas apostar na quantidade, sempre investi na qualidade, e as pessoas a quem prestava contas queixavam-se mesmo sabendo que o trabalho era bom”. Como meio-termo, à encenadora foi confiada a missão de se focar mais na tradução. Aí Maria Atália sentiu-se mais à vontade porque podia ser rápida como se pretendia sem comprometer a qualidade.   

COVID-19: Moçambique deve aprender da China
Maria Atália teve a oportunidade de conhecer a China seis meses depois de lá ter começado a trabalhar. Quando chegou ao país, foi levada ao seu apartamento e, no dia seguinte, começou a trabalhar. Um ano depois, com saudade de casa, pede férias e viaja de volta para Moçambique, em Dezembro. Não tardou, ao fim de duas semanas, explodem os casos da COVID-19 em Wuhan. Desde então, não viajou mais para China. “Assustei-me muito quando chegaram as notícias de Coronavírus. O que me tranquilizou foi saber que, ao contrário de nós, os chineses ouvem tudo o que o Governo diz. Sabia que os meus amigos estavam seguros. Quando tiveram de ficar em casa, todos os chineses e estrangeiros ficaram. Aliás, acredito que, se nenhum país tivesse retirado os seus cidadãos da China, o vírus não teria se espalhado tanto como se espalhou”.
A actriz e encenadora defende que, neste Estado de Emergência, os moçambicanos devem aprender a ouvir e a seguir as recomendações das autoridades, como os chineses, para que se possa vencer a COVID-19.
Um problema que chamou atenção de Maria Atália na China foi o racismo, que é uma realidade. A este respeito, a encenadora defende que nem sempre se deve olhar para os chineses como racistas, mas, acima de tudo, como ignorantes. “Estamos a falar de um povo que vive como se estivesse numa ilha; que, quando liga televisão, é para ver apenas canais nacionais. Não cabe na cabeça deles que existe um negro. Eles acreditam apenas nas histórias contadas pelos avôs de que o negro vive com leões. Têm redes sociais, mas apenas válidas para China. O racismo deles é resultado da ignorância”.

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